“A arte é inútil”, começou assim a fala de João Paulo Cuenca na terceira mesa literária da Flica, às 15 horas, do dia 15 de outubro, sobre o tema O superficial da profundidade ao lado de Lima Trindade.
Durante a conversa mediada pelo poeta pernambucano Cristiano Ramos, os autores falaram sobre a subjetividade da literatura, sua capacidade de mexer com o inconsciente humano, enquanto arte, e de avançar para o indizível, por isso, sua “inutilidade” prática. Para João Paulo Cuenca, reside aí a maior força da arte e da literatura, como uma manifestação desta.
Lima Trindade aprofundou sua análise para o campo do humano. Segundo o autor, ler possibilita uma vivência para além da cotidiana, ou ainda a problematização da banalidade de nossa existência. Nesse sentido, Cuenca corroborou com a opinião de Lima, ao afirmar que a literatura traz a inquietação necessária para se perceber a inutilidade das coisas que nos rodeiam.
Após essa introdução da função da literatura, o mediador foi ao cerne do tema proposto fazendo a pergunta: “A literatura tem de, obrigatoriamente, ter uma linguagem simples?”.
Para Trindade, o texto é a maneira mais eficiente de se expressar, não importa se de maneira barroca ou objetiva, como a jornalística. João Paulo Cuenca, por sua vez, acredita que o texto literário tem de ser artístico no uso das palavras, não necessariamente simples.
No entanto, para ambos, de maneira nenhuma uma linguagem de fácil entendimento significa uma produção menos densa. As crônicas, como textos curtos que trazem temas aparentemente banais, foram citadas como exemplo de profundidade subjetiva. Cuenca lembrou então da Última Crônica de Fernando Sabino que, ao descrever a cena de um casal negro, acendendo a vela do bolo de aniversário da filha pequena, no fundo de um café na cidade do Rio de Janeiro, conseguiu falar, indiretamente e com linguagem simples, de um dos temas mais caros ao nosso País: o racismo.
No dia dos professores, o papel destes na formação de novos leitores também veio à tona a partir de pontos de vista diferentes. Cuenca criticou o conteúdo programático de leitura apresentado aos alunos, sem liberdade para os jovens expressarem-se em relação aos livros, ou mesmo escolher quais gostariam de ler. Trindade, citando a feliz experiência que teve em uma escola, com crianças que conheciam seus livros, seus textos e sua carreira como escritor, acredita que o professor tem papel central em seduzir alunos à leitura, mas sugeriu: “O professor tem de fazer os alunos verem-se nos clássicos, em suas próprias realidades. É preciso aproximar a arte literária cada vez mais da condição humana”.
Assim a literatura aproxima-se do indivíduo em – nas palavras finais de Lima Trindade -, “uma experiência intransferível de dar vida à palavra que está morta no papel, transformando-se em um ser reflexivo, crítico. Um País que não lê está fadado à manipulação”.
Ao término da mesa literária O superficial da profundidade, os autores seguiram para a sessão de autógrafos. João Paulo Cuenca autografou seu romance O único final feliz para uma história de amor é um acidente, pela Companhia das Letras. E Lima Trindade, O retrato ou um pouco de Henry James não faz mal a ninguém, pela editora P55.
O Governo do Estado da Bahia apresenta a Flica 2015 e o projeto tem patrocínio da Coelba, da Oi e do Governo do Estado, através do Fazcultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e apoio cultural da Oi Futuro, da Prefeitura Municipal de Cachoeira, do Sebrae, da Odebrecht e da Caixa Econômica Federal. Um evento realizado pela iContent e Cali.
Confira a programação da Flica no site: www.flica.com.br
O quê: Festa Literária Internacional de Cachoeira – Flica
Quando: 14 a 18 de outubro de 2015
Onde: Município de Cachoeira, a 110 km de Salvador
Entrada gratuita
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