Especialista em Língua, Linguagem e Literatura, Aroldo Veiga destaca em entrevista o papel da literatura de inquietar, subverter e conscientizar os leitores a respeito das mazelas sociais e psicológicas da sociedade. No novo livro, Antagônicos (2023), o sergipano aborda temas como fanatismo religioso, violência doméstica e evidencia o abismo social que existe no Brasil.
O escritor reflete sobre a importância de refletir sobre estas pautas sociais, o contínuo processo de aperfeiçoamento das narrativas e a importância como agente cultural de buscar inspiração além da livros.
1 – Você se especializou em Língua, Linguagem e Literatura buscando um refinamento na narrativa. O resultado é visível em Antagônicos, por meio de diálogos elaborados, uma rica sintaxe e vocabulário. Comente como é este trabalho contínuo de aperfeiçoamento a cada novo livro.
A.V.: O conhecimento sistematizado proporciona uma base teórica importante. A criação literária, no entanto, exige um alargamento dessas fronteiras. É preciso deixar o veio literário seguir seu curso para além do rigor acadêmico. Por isso, além de ler muito, procuro fazer cursos, ir a teatros, assistir filmes e séries. É um aprendizado constante.
2 – E quanto ao enredo, como foi o processo de pesquisa para construção desta história contemporânea, iniciada no final dos anos 70?
A.V.: Primeiro construo um arcabouço intuitivo, depois faço pesquisas e vou em busca de elementos que enriqueçam o meu enredo, sempre com o objetivo de trazer componentes novos e tornar o texto mais interessante. A principal matéria-prima é minha própria bagagem de vida.
3 – Aroldo, seus dois romances – Antagônicos e Trono de Cangalha – carregam importantes críticas sociais sobre temas como fanatismo religioso e violência doméstica. O próprio título Antagônicos prenuncia que estamos diante de realidades opostas, evidenciando o abismo social no Brasil. Como você vê o papel da literatura para evidenciar as mazelas do país?
A.V.: Historicamente a literatura tem o dom de inquietar. Portanto, é essencialmente perigosa, subversiva. Penso que além de entreter, de informar, de educar, a literatura tem o papel de causar estranheza, inconformismo, de quebrar paradigmas e tornar consciente as nossas mazelas sociais e psicológicas.
4 – Em 2021, quando você publicou Trono de Cangalha, muitos leitores elogiaram tanto a construção da narrativa quanto a linguagem utilizada. De que forma esses feedbacks contribuíram para a escrita do novo romance, Antagônicos? Quais caminhos você tomou a partir desses retornos do público?
A.V.: Com os feedbacks aprendi que uma boa literatura precisa estar equalizada. Não deve haver sobreposição entre os seus elementos – vocabulário e oralidade, intuição e técnica. É preciso homogeneizar, deixar tudo em perfeito equilíbrio. Adquirir esta percepção me ajudou na construção de um texto mais maduro e harmônico.
5 – Antagônicos também chega para leitores de Portugal, Japão, Estados Unidos, Canadá, Polônia, Suécia, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha e Austrália. Qual a expectativa e como está sendo a experiência de pela primeira vez sair das fronteiras do Brasil neste mercado tão competitivo?
A.V.: A expectativa é a melhor possível. O livro está sendo bem cotado aqui no Brasil e acredito que também será no exterior. De toda forma, é uma experiência desafiadora.