Dramas, reviravoltas surpreendentes, protagonistas complexos e um desfecho inesperado. Com um estilo narrativo à la Colleen Hoover, a autora mineira Carol F. explora todos os elementos de um bom suspense dramático em O Fruto Proibido. Enquanto narra uma série de assassinatos de crianças em uma cidade pacata, o livro também joga luz aos dilemas morais e humanos para fazer refletir sobre como as sombras do passado reverberam de forma silenciosa na construção da personalidade das pessoas.
A escritora desafia os limites entre a bondade e a maldade ao apresentar um grupo de veteranos da polícia, que enfrentam desafios pessoais ao mesmo tempo que investigam a identidade do culpado pelos crimes. Com capítulos intercalados entre narrações pelo ponto de vista de cada um deles, inclusive o do vilão e psicopata, a obra mostra a bagagem de perdas, traumas, amores e revoltas que influenciam as escolhas de vida e o futuro.
Nesta entrevista, Carol F. destaca que descobrir o assassino pode até ser o pontapé inicial da história, mas o que vai prender mesmo a atenção dos leitores é o mergulho nos conflitos da psique humana e das relações. Ela também fala sobre o processo de escrita, a mudança de carreira na área do Direito para a literária e as inspirações por trás do thriller. Leia abaixo na íntegra!
“O Fruto Proibido” surgiu durante um momento conturbado de sua vida, quando você estava em transição de carreira e também passava por uma mudança brusca no âmbito espiritual. Como essas experiências pessoais ressoam no livro?
Carol F.: No ano em que comecei a escrever o livro eu estava completamente perdida, pois a estabilidade financeira não estava ao meu lado mais. Comecei a buscar o que realmente importava, além do dinheiro. Durante este período em busca de autoconhecimento, alguns episódios do passado começaram a rondar o meu presente, me fazendo questionar o que realmente valia a pena viver. E, a partir do momento em que descobri que eu poderia realmente mudar o meu futuro e realizar a minha missão de tocar a vida das pessoas pela escrita, eu parei de culpar as pessoas pelas minhas escolhas antigas. Levando em consideração as minhas descobertas sobre mim mesma, eu resolvi que os personagens também enfrentariam situações do passado que implicariam diretamente em suas escolhas futuras. Eles vivenciariam dores antigas para se curar e ter um presente possivelmente mais feliz e resolvido. No fundo, tudo depende do que realmente queremos e fazemos para isso acontecer.
2. A obra aborda crimes violentos que acontecem com crianças e acompanha a tentativa de profissionais de solucionarem o caso. Por que você optou por incluir estes tipos de crimes na trama? O que você espera que os leitores compreendam a respeito dessas temáticas?
C.F.: A ideia de abordar o tema sobre abuso infantil vem de um medo que eu adquiri depois que tive as minhas duas filhas. E quando realmente decidi que escreveria sobre esta temática dentro de um suspense policial, eu estava no auge da minha fragilidade como mãe, pois ainda tinha um bebê em casa extremamente indefeso, que precisava de mim 24 horas por dia. Em virtude disso e de sonhos que tive sobre situações relacionadas aos meus temores na época, foi que decidi apresentar histórias fictícias que mostrassem o quanto é fácil perdermos as nossas crianças, de todas as formas, para pessoas psiquicamente doentes que podem tanto estar na esquina de nossas casas quanto dentro do nosso convívio familiar. Quero que o livro vá além do entretenimento oriundo de um suspense bem misterioso; almejo que ele faça com que os leitores reflitam sobre a importância de zelarmos pelas nossas crianças, em um âmbito geral.
3. Você apresenta a narrativa a partir de múltiplos pontos de vista, inclusive o do vilão. Conte um pouco sobre a escolha desse recurso estilístico e como foi pensar a história a partir do criminoso?
C.F.: Antes mesmo de começar a organizar os capítulos, eu pretendia que o livro fosse mais abrangente, ou seja, não se tratasse apenas de uma equipe de policiais tentando elucidar um crime que girasse em torno de abuso e morte infantil. Queria realmente tocar os leitores de várias formas e por isso eu fiz o livro dividido em capítulos que contassem o passado e os acontecimentos do presente de 7 personagens, dentro de uma narrativa principal, inclusive a do assassino. Desta forma, os leitores poderiam entender melhor cada personagem e suas atitudes, bem como o impacto de cada história na elucidação dos crimes hediondos. Para mim, o pior ponto de vista a ser trabalhado foi o do assassino, uma vez que eu precisei incorporar alguns sentimentos dele para repassar com o máximo de veracidade para os leitores. E esta parte foi complicada, porque notoriamente nossos pensamentos são completamente contrários e vários sentimentos ruins me acometeram durante a minha introspecção de ser um assassino abusador.
4. A obra trata sobre problemas no casamento, traumas da infância, abusos e outras experiências traumáticas. Como essas experiências trazem verossimilhança para o livro e se aproximam das vivências dos leitores?
C.F.: A construção da maioria dos personagens, pelo menos no que tange aos principais que dão voz à narrativa, são realizadas mostrando as suas fragilidades decorrentes de algo que tenham passado no decorrer da vida. E convenhamos, todos nós em algum momento vivemos algo que impactou diretamente em nossas decisões futuras. Portanto, é muito mais fácil o leitor, em algum momento da leitura, se identificar com algum personagem ou situação análoga à sua história. No que se refere ao comportamento do vilão, eu acredito que uma pessoa má, via de regra, não nasce assassina. Geralmente o caráter e suas atitudes ao longo da vida são frutos de algum tipo de ação traumática da infância ou até mesmo na adolescência e, por isso, é tão importante mostrar um pouco do passado de cada personagem, inclusive do psicopata. Não só para mostrar que também somos passíveis de erros, mas que nossos pensamentos e ações futuras podem ser reflexo do que passamos dentro de casa, com nossos próprios pais.
5. O livro retrata ainda o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e como nem sempre ambos estão alinhados, porque às vezes um lado precisa de mais atenção que o outro ou um desanda enquanto outro caminha bem. Por que retratar esses conflitos da vida adulta na trama? Eles se conectam com as suas próprias vivências?
C.F.: Este livro se trata de falhas humanas e desequilíbrio tanto psíquico quanto físico. E esta vontade de alinhar vida pessoal com profissional também nos causa um desgaste emocional que pode desencadear ações que nem sempre gostaríamos de ter. Por isso quis abordar muito mais que as ações “imperdoáveis” de um assassino abusador; retratei realidades comuns que também mostram a fragilidade de uma pessoa bem-sucedida, como é o caso de Emma, uma advogada de renome que luta contra seus próprios fantasmas na vida pessoal, mesmo tendo uma vida financeira estável.
A narrativa sobre a tentativa de equilibrar tanto vida pessoal quanto profissional me retrata completamente, porque ao mesmo tempo que quero ser uma mãe presente e dedicada às minhas filhas, uma esposa amorosa e disposta, eu tento ser uma profissional excelente, que deseja ter mais tempo para desenvolver as suas atividades laborativas. Nunca quis ser só uma coisa, sempre fiz o máximo para ser múltipla e isso também me consome tanto mentalmente quanto fisicamente, porque achar este equilíbrio diariamente é quase impossível. Até o presente momento eu não consegui.
6. Apesar de ser um romance policial, o livro também traz mensagens que enveredam pela importância do perdão e autoconhecimento. Por que lançar luz para temas que também são positivos a partir de uma obra de suspense?
C.F.: Porque eu acredito naquele ditado popular tão cheio de significado para alguns e tão medíocre para outros: “depois da tempestade vem a bonança”. Portanto, depois de tanta dor e sofrimento eu precisava colocar lições de perdão e amor, porque é isso em que eu acredito. Não queria fazer uma simples história rasa somente sobre mortes infantis e ao final, a descoberta do assassino encoberto no início da história. Fiz uma obra para ir além, para ter reflexões profundas sobre nós mesmos e o que podemos fazer para mudarmos o nosso futuro, mesmo diante das situações ruins do passado. O perdão nos salva, nos alivia, dá sentido para a nossa vida e é necessário para acreditarmos novamente nas pessoas e no amor. É no que eu acredito e quero repassar para mundo.
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Sobre a autora: Ana Carolina de Araújo Fonseca seguiu os passos da família e advogou por dez anos. Mas, quando a primeira filha nasceu, sentiu a vontade de experimentar outra profissão para que pudesse aproveitar a maternidade. Entrou no mundo dos negócios e abriu uma empresa de e-commerce, porém, depois de anos neste ramo, decidiu se dedicar a um sonho antigo: o de escrever. A partir desta mudança, lançou O Fruto Proibido, seu romance de estreia, em que assina com o pseudônimo Carol F. Aos 39 anos, ela é casada, mãe de duas filhas e agora dedica-se integralmente à escrita.
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