Ao lançar seu primeiro romance, Luiz Alfredo de Araújo entrega ao leitor uma narrativa profundamente humana em “Até que haja cura”, ambientada em cidades brasileiras como Uraí, Curitiba e Belo Horizonte.
Nesta entrevista, o autor fala sobre as descobertas pessoais no processo de escrita, a influência de experiências de vida em sua trama, o impacto da leitura crítica em sua obra e a resiliência necessária para narrar amor, doença e perda sem renunciar à esperança.
1 – Como autor estreante, que descobertas fez sobre si mesmo durante a escrita do seu romance “Até que haja cura”?. Alguma delas te surpreendeu?
L.A.A.: Ah, posso dizer que sim. Pois, trata-se de uma experiência nova, como em qualquer outra novidade, que a gente ousa desenvolver ou viver no curso de nossa vida. Aqui, como uma personagem a mais, no contexto que compõe a história de cada um, quando eu menos esperava, vi-me inserido num tenaz desejo de manifestar o meu latente sonho de escrever e tornar público em forma de livro. No entanto, a coisa não era assim, tal qual eu via em filmes. Ou autor, se isolando para buscar inspiração, enquanto o seu agente o cobrava na agilização do rascunho, e claro, com um significante adiamento monetário, enquanto terminava o seu trabalho. O que me surpreendeu na verdade, no qual confesso ter titubeado na base, foi quando recebi o resultado da leitura crítica, que obviamente eu havia contratado. Agora, tentando encontrar o nome da profissional que atua por aí, na equipe LC, que participaram na condução e efetivação de “Até que haja cura”, pude constatar, que não está ali o nome de quem me judiou na época, com sua leitura crítica. Se não me falha a memória, para que me faça confundir nomes, é a Luana. Eis aí minha vilã, que hoje considero uma profissional de ponta, que radicalmente veio me influenciar no que diz respeito a uma contextualização bem-feita. Fora isso, no mais, o que se passa comigo, não passa de ansiedade, por querer apressar bons resultados, e por temer fluidos não tão compensativos. Coisa normal, eu acho!
2 – O livro toca em temas sensíveis como doença, resiliência e o tempo. Houve inspiração em experiências pessoais ou em histórias próximas para dar vida ao dilema de Lúcio e Mari?
L.A.A.: Na verdade, quando me propus a realização desse meu primeiro projeto como escritor, eu não tinha, em hipótese alguma, um embasamento voltado a um determinado público. Pois, eu estava disposto a tornar público, já que eu sentia, que poderia impactar um número de pessoas que coincidissem semelhantemente, com o conteúdo da história, e porque não, através de alguns exemplos, trazer algum benefício, de acordo com o entendimento do leitor em questão. Toda história em si, traz conteúdos, sendo os mais enfáticos; a enfermidade, o tempo e a perseverança, mas também, segundamente, apresenta uns toques de ficção, onde há a tentativa de minimizar a saga na qual estavam envolvidos Lúcio e Mari. Nomes fictícios, respectivos ao meu e o da minha mulher. Portanto essa obra literária, com as lembranças buscadas para tal, foi responsável pelo deslize de muitas lágrimas, que me fazem desejar, terem valido a pena.
3 – “Até que haja cura” se passa em diferentes cidades do Brasil, como Uraí, Curitiba e Belo Horizonte. Como a ambientação e as mudanças de lugar refletem ou acentuam as transformações dos personagens?
L.A.A.: Pois bem! Sinceramente, eu acho que todo mundo já viveu, ou senão, muito provavelmente viverá um impasse na vida. Seja um de pequena significância, ou um de maior relevância. Em quaisquer deles, só quem passa, pode saber e relatar, o quão sufocante pode ser a experiência. No caso de Lúcio e Mari, tratava-se de encontrar o caminho, onde pudessem encontrar um jeito de achar a solução para o que os afligiam. Nessa, valia tudo, já que certeza, não tinham de nada, senão prosseguir pelas veredas que a vida proporciona continuar, sem nada mostrar convictamente, de que bons resultados teriam. Havia à frente dos olhos de suas mentes, a necessidade constante de encontrarem remédios, capazes de curar ou pelo menos minimizar a dor de um mal que não tinha cura. E na ilusão de que uma mudança radical de endereço, pudesse transformar milagrosamente a vida deles, confiantes, puseram os pés na estrada rumo à Belo Horizonte. No entanto, à medida que o tempo passava, embora a princípio parecesse bom, as coisas foram mudando de forma, e o pesadelo voltava à tona, como peixes sem água no aquário. E assim, como último subterfúgio, restou-lhes, a contragosto, pularem no rio que os levariam de volta, de onde tinham partido. Onde as águas do passado e do futuro se encontrariam presentes, numa pororoca sem precedentes.
4 – A doença de Mari é um elemento central que transforma a vida do casal. Quais foram os maiores desafios emocionais e criativos ao escrever sobre isso? Você quis trazer alguma reflexão sobre como a sociedade lida com a doença e o cuidado no contexto de um relacionamento?
L.A.A.: Lúcio e Mari, eram quase crianças, quando se defrontaram casualmente pela primeira vez, ele com dezessete, ela com quase quinze. Desatentos quanto a qualquer tipo de responsabilidade em relação à vida, posicionavam-se apenas aqueles momentos que achavam mágicos. Experiência singular para quem passa a viver o primeiro amor. Porém, como acontece comumente nas histórias que a vida cria, dificilmente os protagonistas de um enredo, ficam livres de contendas ou impasses. Ainda como namorados, Mari já começava a apresentar anomalias em relação à sua saúde, o que não interferia muito no relacionamento deles, permitindo que continuassem se amando, mesmo frente às dificuldades. No entanto, com o passar do tempo, foram sendo condicionados, devido aos sintomas que evoluíam, numa suposta montanha russa, em seus altos e baixos, onde decididamente, não havia herói nem bandido. O que passou a existir na verdade, a partir de cruciais momentos, foram tentativas, sobre tentativas, de um casal, tentando recuperar a integridade denegrida por uma situação que não tinha óbvia explicação. Com sinceridade, enquanto eu escrevia, não havia intento definido, quanto o que eu estava escrevendo. Mas agora com a história disponível a todo e qualquer leitor interessado, vejo sim, que pode, realmente, não ser apenas um entretenimento, mas também uma fonte de raciocínio sobre a questão que a obra traz em foco. Muita gente, muito mais bem informada, simplesmente quando se veem à frente de similar situação, acabam perdendo às rédeas, sendo tomadas por infortúnios, levando-os ao fundo de um poço que passa a ser só seu. Então aqui, concluo: “Jamais, perante a qualquer impasse, deve haver desistência, mas sim resiliência. A perseverança em busca da solução, mesmo com lágrimas, sempre valerá a pena, por pelo menos, ter tentado”.
5 – O que você espera que os leitores sintam ou levem consigo após terminarem a leitura de “Até que haja cura”?
L.A.A.: O resultado que pode vir, após a leitura, acredito que pode ser muito relativo, considerando cada leitor como indivíduo único. Dependerá de como ele vai encarar o que acabou de ler. Certamente, cada reação vai estar conforme o emocional de cada um. Mas, certamente, independentemente da reação de cada um, espero que haja muita gente, em que se desperte o interesse de ler para conhecer, o que fiz com dedicação. Que não só para eu ler, e na sequência, ver o livro que me custou meses, sendo invadido pela poeira na estante. Quero mesmo que todo mundo leia e finalmente no fim da leitura, sejam sinceros; valeu a pena, ou não, o empreendimento!
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Sobre o autor: Luiz Alfredo de Araújo nasceu em Uraí, Paraná, em 1954. Ao longo de sua trajetória, acumulou vivências marcadas por desafios e conquistas que hoje alimentam sua produção literária. Residente em Almirante Tamandaré, também no Paraná, encontrou na escrita um novo propósito após a aposentadoria. Viúvo, dedica-se à literatura como forma de expressão, reinvenção e legado, estreando com uma obra que reflete a sensibilidade de quem transforma memórias e sentimentos em narrativa.
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