Quando Francine Cruz perdeu o avô, uma de suas principais inspirações para seguir a carreira literária, ela decidiu escrever Vovô foi embora, mas deixou muita história. O objetivo foi eternizar suas memórias e também registrá-las para conversar com a filha sobre o bisavô, que já se foi. Professora, mestre em Educação, doutoranda em Educação e escritora, ela defende que os livros são uma forma de falar com o público infantil sobre sentimentos difíceis, como a dor e o luto.
“O luto é uma experiência pela qual todos nós passamos em algum momento da vida. Apesar disso, esse tema ainda é pouco discutido com as crianças, sendo muitas vezes considerado um tabu”, opina a autora. Por isso, seu lançamento literário mostra como a saudade pode se tornar lembranças carinhosas. Leia entrevista completa abaixo
1 – O livro “Vovô foi embora, mas deixou muita história” traz a visão de uma criança sobre a perda de um avô. Por que você decidiu falar do luto através de uma história carinhosa e singela?
F.C.: O luto é uma experiência pela qual todos nós passamos em algum momento da vida. Apesar disso, esse tema ainda é pouco discutido com as crianças, sendo muitas vezes considerado um tabu. Por isso, nesta obra, busquei ressignificar o luto, tornando a saudade uma lembrança carinhosa de alguém que partiu, mas que deixou histórias gravadas no coração.
2 – Na obra, você também diz que o avô era um grande contador de histórias. Na sua opinião como mestre em educação, como a contação de histórias pode ser um vínculo de afeto com crianças e incentivo à leitura?
F.C.: Primeiramente, contar uma história é estar presente e dedicar tempo ao outro, e isso já propicia um vínculo de afeto e carinho. Com a contação de histórias, o incentivo à leitura começa mesmo antes de a criança aprender a ler, pois ela é apresentada ao universo literário, desenvolve sua imaginação e tem contato com diferentes experiências e sentimentos, aprendendo a lidar com isso.
3 – O livro ainda traz elementos do folclore brasileiro, como a Mula Sem Cabeça e o Saci. Por que você colocou esses aspectos da cultura brasileira na história?
F.C.: As histórias tradicionais brasileiras têm essa ligação com o folclore, especialmente as que vêm da oralidade, como é o caso desse avô que contava histórias à criança. Trazer essas personagens no livro é uma forma de valorizar as tradições brasileiras e reverenciar as gerações mais antigas que permitiram que essas histórias chegassem até nós.
4 – A obra é uma homenagem ao seu próprio avô. Como o livro infantil e sua história pessoal estão conectadas? Qual a influência do seu avô na sua trajetória?
F.C.: Este livro foi feito como uma homenagem ao meu avô, falecido em 2017, quando minha filha tinha apenas 5 meses. Meu avô era um grande contador de histórias, e certamente isso influenciou para que hoje eu também seja uma contadora de histórias e possa repassar para a minha filha o seu legado.
5 – Para você, qual a importância do contato com a contação de histórias e a literatura desde a infância?
F.C.: A contação de histórias é importantíssima para o desenvolvimento da criança, pois ela permite o acesso à literatura para aqueles que ainda não sabem ou por qualquer motivo não podem ler. Por meio de histórias ficcionais, ampliam-se as experiências e a capacidade de imaginação e comunicação, fazendo com que uma atividade de lazer seja também um momento de aprendizado.
Sobre a autora: Professora e escritora, Francine Cruz é doutoranda em Educação, mestre em Educação e licenciada em Educação Física e Letras – Português e Inglês. Como autora, recebeu o Prêmio Agente Jovem de Cultura, do Ministério da Cultura, foi selecionada em concursos e editais com seus contos e publicou o livro “Amor, Maybe”. Integrante de coletivos literários femininos, como As Contistas, Mulherio das Letras, Ruído Rosa, Marianas e Vozes Escarlate, ela agora divulga sua produção mais recente, o título infantil “Vovô foi embora, mas deixou muita história!”.
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