*Marcelo Souza
A gestão de resíduos eletroeletrônicos (REEE) representa uma preocupação ambiental significativa devido ao crescente descarte de dispositivos obsoletos, como celulares, computadores, televisores, refrigeradores e máquinas de lavar. Esses aparelhos contêm substâncias tóxicas, que tornam seu descarte adequado um desafio crítico.
Mercúrio, chumbo, cádmio e outros elementos perigosos presentes nesses eletrônicos, quando entram em contato com o solo e a água, contaminam o meio ambiente, afetando a fauna e a flora. O manuseio inadequado dos componentes internos desses aparelhos também pode prejudicar a saúde humana; por isso é importante termos soluções para que o descarte seja feito de forma responsável.
Empreendedores pelo mundo e no Brasil enxergam neste problema uma oportunidade de negócio, gerando empregos e contribuindo para a diminuição dos impactos do lixo eletrônico ao meio ambiente. Para isto, é essencial adotar abordagens inovadoras que combinem sustentabilidade ambiental, expertise tecnológica e viabilidade econômica.
Dentro do contexto da economia circular, que direciona estratégias e práticas para manter produtos, materiais e componentes em circulação pelo maior tempo possível, é necessário implementar práticas de remanufatura, revenda, reciclagem, recuperação de materiais, coleta de componentes e upcycling.
A remanufatura e revenda, por exemplo, envolvem a restauração de produtos ainda funcionais, que, após alguns reparos, podem retornar às condições originais de funcionamento. Esses dispositivos são, então, revendidos a preços geralmente mais acessíveis do que produtos novos, oferecendo opções econômicas e de qualidade aos consumidores, o que reduz a demanda por novos eletroeletrônicos. No contexto da remanufatura, há também a possibilidade de coletar componentes valiosos como ouro, prata e cobre, para serem reutilizados em outros produtos ou vendidos novamente ao mercado.
Mas, além de todo esse processo necessário para dar vasão à grande quantidade de lixo eletrônico produzida – e que aumenta a cada dia –, é preciso pensar em formas de mudar este modelo linear de consumo que vivemos hoje, pautado na larga escala de produção e descarte frequente devido à rápida obsolescência do produto. Precisamos começar a mudar esse modelo econômico, no intuito de prolongar a vida útil dos produtos, além da modularidade e facilidade de reparo, reduzindo cada vez mais a geração de resíduos.
Há empresas comprometidas com este propósito no Brasil e, mais do que isso, estão abertas a manter um diálogo constante com as autoridades reguladoras do país, concorrentes e parceiros, com o objetivo de aprimorar seus processos e gerar valor sustentável e circular para todos os stakeholders, incluindo o meio ambiente, a sociedade, os acionistas e os funcionários.
Todos nós fazemos parte desse sistema extremo de consumo, então que façamos todos parte da reconstrução de um mundo melhor na corrida contra o tempo da degradação do planeta.
*Marcelo Souza é especialista em economia circular,
professor universitário e autor da antologia Reciclagem de A
a Z. Também é presidente do Instituto Nacional de Economia
Circular e CEO da Indústria Fox – Economia Circular.