A ficção não funciona apenas como entretenimento, porque ela também pode ser uma forma de lutar contra o apagamento da memória. Esse é o compromisso do escritor Carlos Augusto Galvão com seu livro Quando caem as cinzas, que narra um dos momentos mais sombrios da história brasileira: a ditadura militar.
O protagonista da trama é Benedito, um jovem recém-formado e idealista que inicia sua carreira médica em Marabá, mas se depara uma Amazônia rodeada de conflitos políticos. Até então alheio à política, ele se depara com o drama de civis desaparecidos, perseguições e mortes promovidos pelos órgãos de repressão, além de se envolver com a causa dos membros da Guerrilha do Araguaia.
A obra ficcional foi construída a partir das lembranças do autor acerca da ditadura. “Toda a minha adolescência e início da idade adulta minha vida foi perturbada pela ditadura militar. Observo que essa violência está sendo esquecida pelas novas gerações, e têm algumas pessoas que deturpam a história para enaltecer a ditadura. Porém, ela não pode cair no esquecimento nacional”, explica ele.
Confira abaixo entrevista completa:
1 – Seu romance mescla ficção e realidade ao retratar a repressão militar no Araguaia. O que motivou a escolha dessa temática e por que ela continua urgente nos dias de hoje?
Carlos Augusto Galvão: Toda a minha adolescência e início da idade adulta minha vida foi perturbada pela ditadura militar. Observo que essa violência está sendo esquecida pelas novas gerações, e têm algumas pessoas que deturpam a história para enaltecer a ditadura. Porém, ela não pode cair no esquecimento nacional, para que nunca seja repetida. Este romance é minha contribuição para isso.
2 – O protagonista Benedito é um médico idealista que se vê diante de um cenário de violência e silenciamento. De que forma sua vivência como médico influenciou a construção da narrativa?
C.A.G.: Como o personagem, iniciei minha vida profissional naquela região. Muito vi, muito ouvi falar e muito me revoltei. Entre outras coisas, emprestei esta minha vivência para construir a narrativa.
3 – A Amazônia aparece em seu livro não apenas como cenário, mas como território simbólico de luta e apagamento. Como foi o processo de pesquisa e escrita para retratar essa região e esse período com tanta densidade?
C.A.G.: Eu sou de lá. Nasci no coração da Amazônia, esta região de povo tradicionalmente rebelde e guerreiro.
4 – A estrutura em primeira pessoa dá ao romance uma dimensão quase confessional. Como essa narrativa contribui para a força do relato?
C.A.G.: Se tem um escritor que me influenciou, foi o Finlandês Mika Waltari, romancista que descreveu muito da história da humanidade em romance e sempre na primeira pessoa. Digo que Mika é meu mestre. Escrevendo na primeira pessoa, consigo transmitir emoções com mais intensidade. E as limitações deste método procuro vencer com histórias paralelas sempre relacionadas ao texto principal. Em meus dois romances usei deste artificio
5 – Que impacto espera que esse livro tenha especialmente entre os leitores mais jovens?
C.A.G.: Que se conscientizem do que foi a ditadura, em contraponto aos que a justificam, a renegam e a enaltecem. Desejo que meu leitor sinta e fique com raiva da ditadura.
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Sobre o autor: Nascido em Santarém (PA), Carlos Augusto Ferreira Galvão formou-se médico pela Universidade Federal do Pará e reside em São Paulo, onde exerce a especialidade de psiquiatria. Além de ”Quando Caem as Cinzas”, ele é autor do romance ”A Terra de Tupã” e escreve poesia e crônicas em coletâneas e antologias da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-SP), da qual foi presidente entre 2001 e 2002 e 2013 e 2014.
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