Cada época e cada contexto têm as próprias palavras e expressões preferidas. Quando frequentei a universidade, termos como “pluralismo”, “polissemia”, “tolerância” e “espiritualidade” estavam na moda. A última delas há vários anos ultrapassou as fronteiras religiosa e acadêmica e alcançou o interesse público. Espiritualidade soa bem em discursos na mídia ou numa conversa pessoal em uma festa com os colegas de trabalho. Fala-se sobre “espiritualidade no mundo corporativo”, “sustentabilidade e espiritualidade”, “o poder da espiritualidade na hora da morte” e, até mesmo, pasmem: “espiritualidade sem Deus”.
Mas qual é o sentido básico de espiritualidade? E qual é a relevância para aqueles que são seguidores de Cristo Jesus? A espiritualidade tem origem na palavra latina spiritus (“espírito”) e está, portanto, relacionada à dimensão interior da pessoa e suas experiências com a realidade suprema e final. Da perspectiva bíblica, ela não exclui o mundo material, uma vez que a realidade suprema e final, o próprio Deus, criou o mundo e o chamou de “muito bom” (Gn 1.31).
A espiritualidade cristã diz respeito à qualidade de nosso relacionamento com Deus e à aplicação a nossa vida diária daquilo em que cremos e que confessamos. A importância está na busca por aprofundar o relacionamento com o Criador e Redentor da vida. O cristianismo não se resume a um conjunto de ideias, mas envolve a experiência prática da revelação de Deus de um modo que cresçamos na comunhão com ele e no desfrute de sua presença.
Assim, a espiritualidade cristã implica a busca por uma existência autêntica e significativa, relacionando as doutrinas fundamentais do cristianismo com todas as dimensões de nossa experiência. Não queremos ser apenas ouvintes da Palavra, mas praticantes efetivos dela (Tg 1.21-25). E se desejamos ter um quadro concreto e perfeito do que significa a prática da espiritualidade bíblica e autêntica, ninguém melhor do que o próprio Cristo para nos mostrar isso.
Jesus se relacionava com o Pai de um modo tão real e vital quanto o ar que respirava. Muitas vezes, retirava-se para lugares isolados ou permanecia em um local até mais tarde, depois de despedir-se da multidão, para investir tempo em comunhão profunda com Deus. Jesus não apenas ensinava sobre oração, ele cultivava uma vida constante de relacionamento com o Pai.
E longe de isolá-lo das pessoas e torná-lo introspectivo, esta comunhão o levava a uma vida de serviço sacrificial e desinteressado àqueles a seu redor. A espiritualidade de Jesus o direcionava aos outros, era “pés no chão”. Ela abrangia todas as esferas da vida e estava ligada a Deus e aos indivíduos de carne e osso a quem ministrava.
Por isso, convido-o a ler com atenção o Evangelho de Marcos e a crescer na compreensão do que significa uma espiritualidade cristã autêntica. Minha oração é que você não apenas defina “espiritualidade”, mas a pratique usando como modelo nosso Senhor Jesus. Assim como minhas filhas nas aulas de balé, que observam os passos e movimentos da professora para dançarem da forma correta e mais natural possível, somos chamados a olhar com atenção para cada movimento de Jesus e crescer em uma experiência cristã cada vez mais profunda e real.
*Tiago Abdalla é mestre em Teologia Bíblica pelo Seminário Teológico Servo de Cristo, em Teologia e Exposição do Antigo Testamento pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida, e em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Escreveu o livro A espiritualidade de Jesus obra que integra a Curadoria Sementes, da Editora Mundo Cristão.