Já faz mais de 20 anos que o primeiro filme de Jumanji estreou com um sucesso estrondoso. Baseado na obra homônima de Chris Van Allsburg, em 1981, a história divertida deu vida a jogos de videogame e inspirou longas com um estilo parecido, como Zathura, também de Van Allsburg. Porém, estes nunca chegaram no patamar do original.
Jumanji conta a história de Alan Parrish, um garoto tímido que, em 1969, encontra um jogo de tabuleiro que dá nome ao longa. Quando decide jogar com sua amiga Sarah Whittle, ele é sugado para dentro do jogo e nunca mais é visto. Décadas depois, os irmãos Judy e Peter Shepherd se mudam para a casa antiga de Alan e encontram o jogo. Sem saber do poder mágico do tabuleiro, eles começam a jogar e a cada lançamento dos dados, animais da selva aparecem para amedronta-los. Jumanji se mostra, então, um tipo de portal para uma selva sem igual. Em uma das jogadas, não são animais que aparecem, mas a versão adulta de Alan, interpretado pelo inigualável Robin Williams, que se encontrava nesta selva mortal até então.
Acreditando que estarão de castigo, e que vencer Jumanji retornará suas vidas ao normal, as crianças continuam jogando até o final, contando não somente com a ajuda de Alan, mas também com sua antiga amiga Sarah, interpretada por Bonnie Hunt. No final, a aposta deu certo, tudo volta ao normal e Alan volta a ser criança em 1969, como se nunca tivesse saído do lugar.
Neste misto de aventura com viagem no tempo, Jumanji conseguiu nos dar aquele tipo de filme fantástico dos anos 80, que em 1990 começam a se tornar mais raros ou não tão eficazes. Zathura, que estreou dez anos depois, não conseguiu o mesmo feito e a partir daí pareceu que obras inspiradas por Jumanji chegariam ao fim.
Com Dwayne Johnson no papel principal em Jumanji: Bem-Vindo à Selva, a franquia consegue ser renovada para os tempos atuais. Embora o trailer pareça batido, a nova produção é hilária. O enredo começa em 1996, com o adolescente Alex Vreeke ignorando o jogo de tabuleiro que seu pai encontrou e preferindo seu videogame. Porém, o poder mágico de Jumanji o transforma em um videogame, o que atiça a curiosidade do jovem. Assim, Alex é sugado para a selva do mesmo modo que Alan. Décadas depois, nos tempos atuais, quatro adolescentes encontram o novo Jumanji e começam a jogar. Todos então são sugados e, pela primeira vez, vemos a famosa selva.
A comédia aparece quando percebemos que Jumanji não só criou avatares para cada uma destas crianças, mas seus personagens são completamente opostos das suas personalidades. Assim, Spencer Gilpin, um nerd sem confiança em si mesmo, incorpora o forte Dwayne Johnson, Martha, uma menina também envergonhada, materializa-se na bonita Karen Gillan, Fridge, um atleta forte, se torna o divertido Kevin Hart, e finalmente Bethany, uma garota extremamente popular e narcisista, se transforma no engraçado Jack Black. Como todos mantêm a mesma personalidade em seus novos corpos, o filme se torna hilário. Porém, é esta crise na percepção de si mesmos que fazem os jovens crescerem.
Mesmo brincando com a viagem no tempo e pagando um tributo ao personagem de Robin Williams (na selva há uma casa na árvore com o texto “Alan Parrish esteve aqui”), o novo Jumanji não consegue e não tenta captar o mesmo estilo fantástico dos anos 80. Porém, se concentrando na comédia e em elementos mais modernos como o videogame e a mídia social, o filme consegue se renovar de maneira bem-sucedida.
Texto escrito pelo cineasta Daniel Bydlowski para o jornal Diário de Pernambuco:
Daniel Bydlowski é cineasta brasileiro e artista de realidade virtual com Masters of Fine Arts pela University of Southern California e doutorando na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. É membro do Directors Guild of America. Trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica como Mark Jonathan Harris e Marsha Kinder em projetos com temas sociais importantes. Seu filme NanoEden, primeiro longa em realidade virtual em 3D, estreia em breve.