Inúmeros são os casos de racismo e intolerância pelo mundo. Com a facilidade dos registros feitos pelas mídias digitais, não é mais possível ignorar ou fingir que nada acontece. Para perceber que o racismo ainda persiste na nossa sociedade e mata, basta lembrar de casos como os de George Floyd e Tyre Nichols, assassinados por policiais nos Estados Unidos, e João Alberto Silveira Freitas, espancado e morto por um segurança e um policial brancos num supermercado de Porto Alegre.
Mesmo que alguém não se considere racista, infelizmente o racismo ainda existe, sim, e faz parte da estrutura da sociedade brasileira. Por isso, não deve ser uma discussão apenas da população negra, mas de todos.
Pensar em uma resolução para esse problema requer, em primeiro lugar, falar abertamente sobre ele, para que seja tirado da invisibilidade. A filósofa Angela Davis diz que “numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. É por isso que esse debate precisa estar presente em todos os ambientes, em especial no ambiente educacional.
Por ser um espaço privilegiado de análise e produção de conhecimento, por meio do qual os preconceitos podem ser superados, a escola tem um papel preponderante na educação das relações étnico-raciais. Porém, para que ela cumpra seu papel e contribua com a possibilidade de transformação social, é preciso criar estratégias pedagógicas no auxílio da reeducação dessas relações.
No entanto, esse não tem sido um caminho fácil. Pesquisas mostram que, mesmo após 20 anos da criação da Lei 10.639 de 2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas, muitos professores ainda se sentem inseguros de abordar esse tema. Motivo? Falta de formação inicial ou continuada desses profissionais.
Os docentes precisam receber formações específicas em suas áreas e nas questões relacionadas à diversidade étnico-racial e à prática antirracista, a fim de que possam mediar essa discussão sem medos ou insegurança.
Se almejamos uma sociedade mais justa e igualitária, é preciso trabalhar com a educação antirracista na escola. E quem vai desenvolver esses debates é o professor, que precisa estar devidamente capacitado e preparado para isso.
Francine Cruz é professora, mestre e doutoranda em Educação
na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e tem como objeto
de estudo o racismo nas escolas. É também autora do livro
“Relações étnico-raciais na educação física escolar”