Pode Levar
Leva meus sapatos.
Hei de calçar coragem hoje.
Tome meus brincos.
Hei de me enfeitar da calma
de não valorizar os chamados de fora.
Coma do meu prato.
Alimento-me das histórias vividas
que me empurraram para cá.
Fica com o meu relógio.
Oriento-me pelos sussurros da intuição,
seguindo pé ante pé as veredas que escolhi.
Emerjo da lucidez,
perfumando com fragrância de loucura
os punhos e atrás das orelhas.
Visto-me de hoje.
Interessa-me o agora.
Descabida
Virando do avesso para ver as costuras
que o corpo tem,
resgatou seu depósito de coragem
para entender quem era ela mesma
e como nela cabem tantas.
Metade menina sem jeito,
metade senhora e dona de si,
seguiu carregando seu estandarte ao som dos uivos lupinos,
olhando em frente, com a cabeça erguida.
Mas não contem a ninguém…
No fundo do peito, dormia
um amedrontado passarinho,
pensando ser toda aquela coragem descabida.
Estou pronta!
Uso fantasias estranhas.
Mas eu gosto mesmo
é de me vestir de versos,
colorir os lábios com rimas.
Gosto de escovar os cabelos
com o que diz sem ser dito,
me perfumar de sentido,
calçar os meus saltos
e sair por aí
de carona com quem me lê.
—
Fernanda Oliveira é fonoaudióloga e escritora, autora do livro “Rebento”.