Faz mais de 135 anos que o Brasil aboliu a escravidão, mas, para a escritora e poeta baiana Simone Maryam, este passado cruel ainda reflete na sociedade atual. Em Mãe Liberté, a autora confronta os espectros do preconceito racial, de gênero e de classe ao mergulhar nas profundezas históricas e contemporâneas do Brasil.
A escritora faz os leitores repensarem o racismo nas relações a partir de uma provocação que permeia toda a prosa poética: “Qual é a cor do amor?”. Nesta entrevista, ela afirma: “o preconceito racial é dos maiores desafios da sociedade brasileira. Precisamos aprender a humanizar a cor.”
Além disso, compartilha como a vivência na Holanda ajudou na construção de perspectivas globais sobre diversidade e respeito às diferenças: “viver numa sociedade multicultural, em que os preconceitos perdem a voz, influenciou de maneira construtiva na elaboração da trama e dos personagens”. Confira o conteúdo completo:
1 – No seu livro, você aborda questões como preconceito racial, de gênero e de classe em um contexto histórico desafiador. Como foi o processo de pesquisa para elaborar uma trama com temas tão complexos? Qual foi o maior desafio?
Simone Maryam: Como falar de liberdade sem falar de escravidão? Mãe Liberté aborda a liberdade em tempos remotos, mexe numa ferida ardida, a escravidão em solo brasileiro, e traça um paralelo com a escravidão moderna.
Foi um processo um pouco doloroso e muito libertador, pois estava atravessando uma fase em que foi preciso fazer importantes escolhas. Foram vários desafios, porém ficou uma grande lição: “é melhor ouvir a verdade que dói, mas não mata, do que ser iludido pela mentira que agrada, mas não cura”.
2 – Pode contar mais sobre a proposta de questionar “qual é a cor do amor?” e como espera que os leitores respondam a essa pergunta?
S.M.: Vivemos num país onde a liberdade está algemada a preconceitos. O preconceito racial é dos maiores desafios da sociedade brasileira. Precisamos aprender a humanizar a cor.
Perguntas e respostas fazem parte da estrutura do estilo literário puzzle, que é baseado em autoajuda. O leitor participa do enredo, ajudando a responder as perguntas que o personagem não conseguiu. É uma nova proposta para a literatura convencional, que visa resgatar o prazer pela leitura, especialmente entre o público jovem.
3 – Como a sua formação e a mudança para a Holanda influenciaram a escrita da obra Mãe Liberté e a construção dos personagens?
S.M.: Costumo dizer que o mundo é a minha casa e a humanidade é a minha grande família. Ter como segunda pátria a Holanda, vivendo numa sociedade multicultural onde os preconceitos perdem a voz, influenciou de maneira construtiva na elaboração da trama e dos personagens.
A Holanda é o quebra-cabeça do mundo, o país onde as diferenças aprendem a se vestir de respeito. Lá o preconceito é o resfriado da sociedade, enquanto no Brasil ainda é um câncer.
4 – Na sua visão, qual é o papel da literatura na educação e formação cultural dos jovens, especialmente em questões sociais e filosóficas como as que são abordadas no livro?
S.M.: A literatura, especialmente no Brasil, deve ser parte do universo dos jovens e adultos. E a ficção puzzle nasceu com a finalidade de motivar a leitura de maneira participativa, fortalecendo as relações humanas, resgatando valores morais adormecidos na nossa sociedade e conscientizando os jovens sobre seus deveres. Ser herói é também praticar atos lícitos e atitudes dignas.
5 – Você introduz o conceito de ficção puzzle para descrever o estilo literário de Mãe Liberté. Como você vê esse estilo contribuindo para o engajamento dos leitores e para a reflexão sobre questões existenciais?
S.M.: Mãe Liberté é um dos livros que faz parte do estilo literário “ficção puzzle”, em que sou pioneira. É a autoajuda poetizada. Um misto de ficção, autoajuda, filosofia, psicologia e espiritualidade. O modelo “ficção puzzle” é simples, com capítulos que se iniciam com algumas perguntas. As respostas estão no texto. E todos os livros possuem uma pergunta escondida em algum lugar, a pergunta que os personagens não conseguiram responder.
Quem responde é o leitor, participando da trama como um detetive literário e buscando encontrar a resposta “puzzle”, concorrendo a prêmios. A pergunta “puzzle” para o livro Mãe Liberté é “qual é a cor do amor?”.
A partir de março de 2024, no dia 16 de cada mês, os leitores terão a oportunidade de enviar a resposta por e-mail e postá-la também nas redes sociais. O primeiro que publicar a resposta correta será comtemplado com R$ 1.000,00 e o segundo colocado, com R$ 500,00. Busco patrocinadores e parceiros para tornar a lista de prêmios mais extensa. Ler também pode ser divertido! O leitor que adquiriu o livro poderá controlar se a sua reposta foi premiada visitando o site www.simonemaryam.com.br e as mídias sociais.
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Sobre a autora: Nascida em Salvador, Simone Maryam morou por anos com a família em Santo Amaro, na Bahia. Em 2003, mudou-se para Holanda, onde estudou Fisioterapia na faculdade de Saúde na Universidade de Utrecht. Em paralelo, dedicou-se à literatura e coleciona prêmios na carreira. Com a poesia “Sepulta-me com novos anos de idade”, recebeu um prêmio do Jornal A Tarde. Publicou também o livro infantil “Goodbye Corona”, que orienta crianças e adultos sobre a prevenção de epidemias e recebeu o Prêmio de Heróis de Amsterdã.
Agora publica a “ficção puzzle” Mãe Liberté: escravo dos seus desejos ou senhor das suas vontades. Com um gênero interativo e em formato de quebra-cabeça filosófico, ela busca formas de encontrar patrocinadores e leitores jovens no Brasil.
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