Uma das caraterísticas mais peculiares da parentalidade moderna é a competividade que os pais sentem que devem instigar em seus filhos. A minha esposa e eu falamos três línguas em casa, levamos nosso filho de um ano a aulas de música e frequentamos um grupo de suporte para mães – bom, eu fui uma vez.
Como acabamos deste jeito? Tudo começou quando um pai me contou que seu filho assistia aos filmes do Baby Einstein. “Temos que pressionar nossos filhos a se tornarem gênios já quando são bebês?”, questionei. Mas minha indignação acerca daquela brilhante série não me poupou de fazer o Pietro assistir ao Baby Van Gogh, caso pudesse dar uma turbinada nele. As cores que se moviam pela tela não capturaram sua atenção. Convenci-me de que era porque o Pietro já era avançado demais.
Mas a nossa grande tentativa de turbinar o cérebro do nosso filho de apenas um ano foi levá-lo às aulas de natação no sábado pela manhã. “Era um investimento no seu futuro”, dizíamos a nós mesmos. Neste mundo competitivo, é preciso começar cedo. Alguém aí sabe quando os chineses começam a levar seus filhos à piscina?
Aos olhos do Pietro, todavia, tudo era mágico e divertido. Ele batia na água com suas mãozinhas e gritava de alegria. Eu o segurava de barriga para baixo, para que pudesse flutuar e descobrir a piscina. Outros bebês gostavam das boias ou dos bichinhos de plástico que flutuavam, mas o Pietro queria colecionar as bolinhas coloridas, até seus braços transbordarem.
Admito: me divertia muito. Depois de um tempinho na piscina, o esforço da vinda era ofuscado pela sua alegria. Me sentia feliz de estar ali. Percebi ser um momento para simplesmente estar presente e deixar que ele ditasse a agenda. Aquilo me fez notar o que eu perdia quando permanecia em meu mundo, ansioso por colecionar a minha próxima bola e com medo de deixar uma das minhas bolas atuais cair. Podia ver sua satisfação de ter o pai só para ele e focado no que realmente o interessava.
Quando chegávamos ao carro, eu notava sentimentos interessantes dentro de mim: contentamento, afeição, gratidão… Nossas aulas não se destinavam a colocá-lo na frente da corrida contra os chineses. Pelo contrário, ajudavam-me a ser presente na vida do meu filho e a vislumbrar o milagre que crescia diante de meus olhos.
Para mim, o Dia da Criança é um lembrete anual de cultivar o contentamento em uma sociedade que transfere a ansiedade para os filhos. Meu conselho: deixa as atividades extracurriculares de lado. É hora de voltar a ser criança também!
*René Breuel é um escritor paulistano que mora em Roma, na Itália. Autor da obra Não é fácil ser pai (Mundo Cristão), possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canadá. É casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.