Para a escritora Marcelly Tatiani, é preciso libertar as lembranças aprisionadas – inclusive da infância e adolescência – para que novas experiências possam surgir. Por isso, ela lança Rascunhos, que imprime textos escritos desde os oito anos de idade e retratam angústias que ela sentia ao crescer: “acreditava que se as pessoas tivessem acesso a eles, elas iriam identificar situações vividas em minha vida e sempre fui uma pessoa bem discreta”.
Após retomar esses sentimentos traduzidos em poemas e ressignificá-los na vida adulta, ela garante que escrever é libertador para compreender melhor as próprias emoções. Desta forma, destina páginas em branco dentro da obra para os leitores que – assim como ela – possam colocar no papel as aflições internas e, mais tarde, retomar para dar um novo significado.
No livro, a escritora e graduanda em psicologia propõe reflexões sobre temas comuns à existência humana, como a influência das amizades, o sentimento de insignificância perante a grandiosidade do mundo, as despedidas constantes, o cultivo do amor-próprio e a dor da paixão.
Confira em entrevista como foi o processo de escrita:
1 – Qual é a relação do título Rascunhos com a obra? Como a ação de “rascunhar as emoções” pode ajudar os leitores a aliviarem aflições internas?
M.T.: O objetivo do livro é que os leitores escrevam o que eles acharem que deve ser escrito, sentimentos aprisionados para depois de algum tempo, serem revisitados e ressignificados. Espero que o leitor de “Rascunhos”, pratique, também, a escrita libertadora nas páginas em branco do livro ou em qualquer outra ferramenta.
2 – De que forma a escrita te ajudou na adolescência, fase de descobrimento dos próprios sentimentos, medos e diferentes formas de viver?
M.T.: A escrita, para mim, sempre foi algo libertador e funcional. Na adolescência comecei a estruturar como seria um possível livro meu. Durante anos, eu os escondi das pessoas, mas eu os revisitava sempre. Durante o processo de autoconhecimento, resolvi que iria publicá-los para atender a vontade da criança/adolescente que fui e prosseguir a minha vida de acordo com a mulher que sou hoje. Em algumas escritas, fiz pequenas alterações, mas quis deixar o mais parecido com o que escrevi originalmente.
3 – Você acredita que a psicologia – sua área de estudo hoje – pode influenciar na forma como você escreve?
M.T.: A psicologia é o meu propósito de vida e dedico quase todo o meu tempo livre em entender os conceitos que são apresentados nas aulas teóricas e nas supervisões, hoje assistir filmes ou ler livros que abordam questões psicológicas, por exemplo, me atraem muito. Pensar em desenvolver uma personagem baseada na compreensão que tenho sobre a mente humana é um desafio grande, não só pelo fato de a mente humana ser complexa, mas sim, pelo fato de ser estudante e ainda estar em processo de escolha sobre a abordagem teórica que seguirei como psicóloga.
4 – Como você acredita que o ato de escrever sobre sentimentos pode contribuir para ressignificar as próprias experiências?
M.T.: Muitas vezes, para nos conhecermos melhor é preciso dar um novo significado a nossa história de vida, acreditar que tudo o que vivemos é aprendizado, isso inclui os acertos e erros que cometemos ao longo de nossa jornada, esse processo nos traz mais segurança e clareza do que a gente verdadeiramente é.
5 – Quais são os seus próximos planos na literatura?
M.T.: Tenho um projeto que sairá no final do ano: serei uma das coautoras do livro “As Donas da P*** Toda”, volume 4. No meu capítulo exploro um pouco do vazio existencial e a importância de ressignificar a sua história de uma forma bem objetiva e particular.
Sobre a autora: Graduada em Letras e pós-graduada em Jornalismo Institucional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Marcelly Tatiani iniciou o curso em Psicologia na Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) com objetivo de se aprofundar na mente humana. Como escritora, estreia com o livro Rascunhos, coleção de poemas e textos que escreveu em diferentes fases da vida.
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