Um passeio entre passado e presente de sete jovens em uma jornada de autoconhecimento e descobertas. Esse é O Livro de Ouro da Juventude, lançamento do escritor pernambucano Renan Valença é ambientado no Recife. Os protagonistas reforçam estereótipos como: o maloqueiro, a evangélica, o militante, a esquisita, o esportista, a popular e o esquecido.
Porém todos são autênticos e com o lado moral e imoral revelado, por vezes conflitantes, mas que convivem em harmonia. As nuances dessas amizades improváveis e como o autor se espelhou em histórias do cinema e da televisão para escrever você confere na entrevista abaixo.
Por que você decidiu entre tantos escrever o subgênero ‘Coming-of-age’?
Renan Valença: A realidade é que não houve uma decisão, um plano, uma escolha. A concepção da história contida em O Livro de Ouro da Juventude foi completamente espontânea, aquele universo brotou na mente de um jovem de 19 anos provavelmente numa tentativa de registrar sentimentos e emoções atinentes ao momento em palavras, em literatura. Ora, aquele jovem sequer sabia da existência do danado “coming-of-age”, isso caiu na conta do jovem adulto de 25 anos ao ouvir o termo e seu conceito e se pegou pensando consigo “humm, essa fórmula me parece familiar”, e no final das contas era uma forma pedagógica de apresentar ao mundo a história que por tantos anos habitou em mim.
É um estilo literário pouco comum no Brasil e muito apreciado no cinema americano. Você se inspirou em quais filmes e séries?
R. V.: Digo sem nenhum melindre que O Clube dos Cinco consta como um dos pilares de concepção de O Livro de Ouro da Juventude, digo que foi o marco zero da obra, a primeira imaginação, ao instar em minha mente a hipótese: e se houvesse um Clube dos Cinco recifense? Aliás, o coming-of-age tem forte presença na produção artística nacional, o maior exemplo é Malhação, apesar do baixo grau de verossimilhança. O filme Cidade de Deus, por exemplo, apesar de toda denúncia e crítica social colaterais, tem o enredo centralizado no amadurecimento de Buscapé e Zé Pequeno, exploramos as inseguranças e descobertas dos personagens em primeiro plano. A série Confissões de Adolescente é outro clássico do coming-of-age brasileiro, tem até um filme de 2013 inspirado na série.
Alguma das histórias relatadas na obra são inspiradas na sua adolescência ou de amigos próximos?
R. V.: Sim, certamente! Acredito que todo artista use do seu arsenal de vivência para dar forma à sua obra, comigo não foi diferente. Apesar da ideia de O Livro de Ouro da Juventude ter nascido de uma mente de 19 anos, sua realização só foi possível graças aos mais de dez anos que separa o idealizador do realizador, agora aos 30.
Quais são as particularidades de Recife que você cita na obra e porque ambientou o livro na capital de Pernambuco?
R. V.: Ambientar a obra em Recife era uma das primeiras premissas, aquela questão “e se tivesse um Clube dos Cinco recifense?” Não tinha forma diferente de realizá-la. Como pernambucano crescido e criado em Recife, tenho profunda intimidade com nossa gente naquilo que compartilhamos, nas referências, na fala, nos gestos. Imprimir essas características que tanto domino em personagens eu acredito ter dado o tom realista que tanto almejei a eles. Recife se torna uma cidade integrada no desenvolver do romance.
Você fez alguma pesquisa para escrever o livro, qual? Quanto tempo levou para escrevê-lo?
R. V.: Fiz bastante pesquisa, especificamente Liliana foi uma personagem que me deu bastante trabalho. Uma moça evangélica é diferente de tudo que eu conheço, pesquisei, entrevistei outras meninas de igreja, li a Bíblia, tive muito cuidado em não criar uma caricatura de mau gosto. Até mesmo para criar o Fernando, um guru good vibes do YouTube, precisei consumir esse tipo de conteúdo que tinha pouca familiaridade. Sobre o tempo que o livro me tomou, a escrita dele, da primeira palavra que pus no papel até a última correção que fiz no arquivo de impressão, durou em torno de um ano e três meses, mas vamos recordar que essa história nasceu em mim lá em 2009, e, entre um ensaio e outro de escrita, levou esse tempo todo para maturar.
Você escreveu essa obra pensando em qual público-leitor?
R. V.: Eis uma pergunta complicada! Acho que ainda estou em busca do danado do público-alvo, e pense numa busca difícil, viu? Novamente, O Livro de Ouro da Juventude foi uma produção muito espontânea, não houve uma visão de mercado ou publicitária. É a concretização de um anseio artístico. Digo que para aproveitá-lo bem precisa de certa maturidade e tolerância com temas perturbadores e a ciência do enorme potencial ofensivo e crítico da obra. O livro é para quem quiser se chocar, rir, passar raiva, chorar e se apaixonar pelos personagens e suas relações.
Sobre o autor: Renan Valença é escritor, e morador de Recife (PE) desde os 12 anos quando saiu do Cabo de Santo Agostinho para estudar no Colégio de Aplicação da UFPE em 2003, a versão real e mais amigável do AMAS. Com o isolamento social a história por trás do O Livro de Ouro da Juventude foi tirada do papel e se tornou uma forma do autor se conectar com suas origens.
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