A especialista em Contabilidade e Controladoria Daniela Corrêa foi surpreendida aos 37 anos com o diagnóstico de um tumor raro na pelve. Apesar do desgaste físico e emocional, enfrentou a doença com muita fé, apoio da família e de uma equipe médica multidisciplinar dedicada.
Para fortalecer e inspirar outras pessoas que passam pela doença ou que estejam vivendo momentos de grande desafio, ela decidiu relatar sua experiência vivida no livro Ressignificando a Dor. Com um olhar sensível e encorajador, a autora busca ajudar outras pessoas a substituir o trágico pelo mágico.
Em entrevista, Daniela relata a importância do olhar atento à saúde física e emocional, e compartilha sua história de superação. Confira abaixo:
1 – Ressignificando a Dor traz um relato pessoal, em que você explora sentimentos íntimos e momentos desafiadores. Como foi expor essa fase tão delicada da sua vida em um livro?
Daniela Corrêa: Escrever sobre sentimentos íntimos e momentos desafiadores é sempre um processo muito pessoal e, ao mesmo tempo, catártico. Expor uma fase delicada da vida em um livro pode ser tanto uma maneira de encontrar cura, quanto de compartilhar uma experiência com os outros, na esperança de que alguém possa se identificar. Às vezes, isso pode ser doloroso, mas também oferece uma oportunidade de refletir sobre como você evoluiu desde então e de encontrar um novo significado naquilo que foi vivido. Essa exposição, por mais difícil que seja, também pode ser libertadora. A escrita tem o poder de gerar empatia e conexão.
2 – Como descreve na obra, você levou muito a sério os sinais que o seu corpo deu de que havia algo errado com sua saúde. O quão importante foi a sua agilidade no tratamento da doença? E de que forma acha que as pessoas podem se perceber e se atentarem mais aos sinais no dia a dia?
D.C.: A agilidade no tratamento de uma doença, especialmente quando se trata de condições que podem se agravar rapidamente, é crucial para minimizar complicações e para a recuperação, pois a percepção precoce de sinais pode contribuir para detectar a doença em estágios iniciais, o que, em muitos casos, aumenta significativamente as chances de sucesso no tratamento. Para que as pessoas possam se perceber e se atentar mais aos sinais no dia a dia, acredito que a chave está em desenvolver uma maior consciência corporal e emocional. Muitas vezes, estamos tão imersos nas demandas diárias que deixamos de ouvir os sinais do nosso corpo ou de nossa mente.
3 – No livro você ainda aborda um cenário muito comum das mulheres pacientes oncológicas: o abandono – na maioria das vezes do parceiro, marido ou namorado. Você conheceu muitos desses casos durante o seu tratamento? Como foi a sua experiência com relação à rede de apoio? E de que forma você acha que as mulheres, fragilizadas pelo tratamento e solidão, podem dar a volta por cima nesses casos?
D.C.: Sim, durante o tratamento, tive contato com várias mulheres que passaram por isso. O câncer, pode revelar fragilidades nas relações, e, infelizmente, muitas vezes, o parceiro se distancia. O que pode ser resultado do medo, do cansaço emocional ou até mesmo da falta de compreensão sobre o que a paciente está vivendo.
Minha rede de apoio foi fundamental, principalmente, a família que me acompanhou desde o diagnóstico até a etapa final de todo o tratamento. A solidão, embora dolorosa, pode ser uma oportunidade de reconstruir a relação consigo mesma e de redescobrir o que realmente é importante para o seu bem-estar. Com o tempo, muitas mulheres conseguem encontrar não só a cura para o corpo, mas também para a alma, e muitas se tornam mais resilientes e conscientes do seu próprio valor, independente da presença ou ausência de outros ao seu lado.
4 – Na sua opinião, o quão importante é um tratamento médico humanizado para diagnóstico e cuidado em casos como o seu?
D.C.: Um tratamento médico humanizado é fundamental, pois o diagnóstico de uma doença grave, como o câncer, muitas vezes vem acompanhado de um turbilhão de sentimentos, como medo, insegurança e ansiedade. Por isso, um tratamento que seja empático e acolhedor, faz toda a diferença. A comunicação clara, o apoio emocional e a sensibilidade para as necessidades individuais do paciente são essenciais para que ele se sinta amparado durante o tratamento.E quando há um atendimento humanizado, que respeita a dignidade e o emocional do paciente, a pessoa se sente mais fortalecida e com mais vontade de lutar.
5 – De que forma você acredita que histórias de superação como a sua podem impactar as pessoas?
D.C.: Acredito que a minha história de superação mostra que, mesmo diante das maiores adversidades, é possível encontrar força para seguir em frente. Quando compartilhamos nossa jornada, estamos não apenas relatando uma experiência difícil, mas também demonstrando a capacidade humana de resiliência, coragem e esperança. Além disso, histórias como essas ajudam a quebrar tabus e estigmas, mostrando que é possível falar sobre a dor e o medo, mas também sobre a recuperação e a reconstrução. É um lembrete de que a vida, apesar de seus desafios, sempre oferece novas possibilidades, e que nunca estamos sozinhos nesse processo.
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Sobre a autora: Daniela Corrêa é natural de Jaguaruna (SC), mas é na cidade de Tubarão (SC), onde reside, que exerce suas atividades. Formada em Ciências Contábeis e pós-graduada em Contabilidade e Controladoria, foi docente no Curso de Ciências Contábeis da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). Apaixonada por leitura e escrita, resolveu contar a história de resiliência e superação após o diagnóstico de um câncer raro e publicou Ressignificando a Dor.
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