Os primeiros raios de sol do dia, a tristeza de quando Plutão deixou de ser um planeta, o cheiro de café feito pela avó e a leveza de uma viagem de trem. As memórias corriqueiras de Walter Medeiros são cuidadas, guardadas e apreciadas por ele em uma busca para contemplar a beleza da vida em sua simplicidade. Além de serem uma maneira de celebrar a existência, essas lembranças também são as inspirações para os poemas do livro Cancelas do Tempo.
Na contramão de uma sociedade que parece cada vez mais acelerada, o autor reforça a importância de parar para admirar o mundo e as experiências. Ele explica os motivos que o levaram a publicar uma obra em homenagem à transitoriedade da vida e à nostalgia: “o tempo sempre remete a lembranças, e é bom quando traz memórias boas. As adversidades, enfrentam-se e podem ser registradas até com lirismo. As mudanças têm, cada uma, sua profundidade, que vem desde um momento de saudade, até o dia da aposentadoria”. Confira a entrevista completa abaixo:
1 – O livro é descrito como uma ode à nostalgia, sobre poemas que ajudam fazer as pazes com o tempo. Dada a sua experiência, como você enxerga a transitoriedade da vida?
Walter Medeiros: Vivo, sabendo que algum dia não estarei mais aqui. Não tenho maiores preocupações com o fim; mas lembro que na juventude a impressão que tinha era de que a vida poderia ser mais longa. Agora, lembro do meu sogro, seu Sebastião, que faleceu em 2022, com 106 anos. Se tiver a sorte de chegar mais uns bons anos para a frente, aí talvez venha a refletir mais sobre o assunto.
2 – Em “Cancelas do tempo”, você menciona algumas experiências pessoais e lugares, como Natal, Lisboa e a Floresta Negra. Como essas vivências influenciaram sua escrita?
W.M.: Natal é a cidade onde nasci, e sempre procurei valorizá-la profundamente. Trata-se de uma cidade encantadora, com suas praias, seu povo amável. Passei seis anos fora e, quando voltei, com nove anos, comecei a cativar cada canto da cidade. Em Lisboa, vivi belos momentos por lá e escrevi poemas sobre ela. E a Floresta Negra tem sua beleza ímpar, mágica, que vale a pena conhecer.
3 – Entre a efemeridade do tempo, as adversidades e mudanças ao longo da vida, como você enxerga o papel da poesia para explorar a profundidade das experiências e emoções dos leitores?
W.M.: A poesia tem o poder de sensibilizar as pessoas. Ao poeta, pode caber escolher a forma mais tocante de a apresentar. O tempo sempre remete a lembranças, e é bom quando traz memórias boas. As adversidades, enfrentam-se e podem ser registradas até com lirismo. As mudanças têm, cada uma, sua profundidade, que vem desde um momento de saudade, até o dia da aposentadoria. Quando contada com bom jeito, pode agradar e envolver o leitor.
4 – É possível dizer que este livro se conecta com suas outras atividades, como jornalista, pai e avô? Há influências mútuas entre essas diferentes facetas de sua vida?
W.M.: Sim. Em muitos momentos podemos encontrar algum traço que reflete a veia do jornalista, a visão do pai e do avô. No entanto, essa conexão está bem mais explícita em outros poemas que não entraram no livro. Possivelmente, em um novo volume, outros poemas mostrarão mais esta parte do autor.
5 – “Cancelas do tempo” aborda um misto de sensibilidade e otimismo, alegrias e tristezas, liberdade e sensualidade. Como foi mesclar essas diversas temáticas? Tem alguma que mais lhe impactou ao retratar?
W.M.: Tem. Poema que fala sobre o lugar onde morei. Refere-se ao bairro do Alecrim, onde vivi por 23 anos. A começar pela rua Campo Santo, onde passamos os belos tempos da Jovem Guarda. Ali, tínhamos uma convivência inesquecível, que mantemos até os dias atuais. Uma rua que tem uma vista magnífica para o rio Potengi, o porto e o mar. Costumo dizer que a formação geográfica da barra de Natal tem semelhança com Tróia, em Portugal.
6 – Qual mensagem ou sentimento você espera que os leitores levem consigo após lerem a obra?
W.M.: Uma sensação de vida, natureza, amor, dedicação e sensibilidade. Que sintam a verdade expressa em cada verso, cada poema, como algo que podem usar, incorporar e propagar. Talvez venha a ter influência nos leitores para a forma como observam ambientes semelhantes aos que são apresentados no livro. Espero que cada um rememore momentos idênticos àqueles mostrados na obra.
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Sobre o autor: Walter Medeiros é jornalista, advogado, escritor e poeta, natural de Natal, no Rio Grande do Norte. Formou-se em Direito na UFRN, em 1977, mas sua vida profissional foi quase toda guiada pelo jornalismo. Começou jovem e enveredou nas redações de rádio e jornais da capital. Também atuou como professor e assessor de imprensa. Foi correspondente da Folha de S. Paulo e chefe de pauta da TV Cabugi, além de vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RN. Em 2012, recebeu título de Cidadão Matagrandense pela Câmara Municipal de Mata Grande – Alagoas.
Na literatura, estreia no gênero de poesia com Cancelas do tempo, mas tem outros quatro livros publicados; dentre eles, o romance Abelardo, o alcoólatra, de 1990 e republicado em 2024, e obras técnicas voltadas a áreas de estudo da saúde e comunicação. Walter Medeiros é casado, tem cinco filhos e nove netos.
Rede social do autor: Instagram
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