Um dos maiores analistas de riscos do mundo, Nassim Nicholas Taleb, em seu livro “A Lógica do Cisne Negro”, conta que o escritor Umberto Eco possuía uma enorme biblioteca com mais de trinta mil livros, porém, nem todos lidos. E a maioria das pessoas que o visitavam costumava perguntar:
“Uau! Signore professore dottore Eco, que biblioteca você tem! Quantos desses livros você já leu?”
Neste ponto, Taleb argumenta que este é o tipo de pergunta que leva a uma forma errada de enxergar o conhecimento. Segundo ele, os livros não lidos deveriam ser considerados bem mais valiosos do que os que foram lidos.
E ele tem toda razão.
Explico.
Suponha que você está montando uma biblioteca pessoal. Qual das estratégias abaixo você adotaria?
- Biblioteca 01: você a abastece com livros que vai lendo ao longo da vida; ou
- Biblioteca 02: você a abastece com todos os livros possíveis, mesmo sabendo que não conseguirá ler todos eles.
Veja. A opção 1 torna sua biblioteca um bom status pessoal, pois, quando você a preencher com uma quantidade elevada de livros, as estantes serão a evidência do grande volume de conhecimento que você possui. E, no caso de alguém fazer a pergunta que faziam à Eco, você poderia responder “já li todos eles!”.
A opção 2 seguramente lhe permitiria construir uma biblioteca muito maior, já que nela você poderia inserir livros que ainda não leu. Mas, exatamente por isso, ela tiraria de você a oportunidade de se gabar, já que a quantidade de livros não lidos, certamente, seria bem maior do que os que você dará conta de ler ao longo da sua vida (por mais assíduo leitor que seja).
Os inúmeros livros não lidos da Biblioteca 02 é o que Taleb chama de antibiblioteca.
No primeiro momento, ela é vista como a evidência de tudo o que você não sabe e, por isso, pode parecer ameaçadora.
A antibiblioteca expõe descaradamente o quanto seu saber é
ínfimo diante da imensidão de leituras que você ainda não fez.
A diferença, então, é que a biblioteca da opção 1 proporciona conforto e status, enquanto a 2 desnuda a pequenez de seu conhecimento.
Qual importância da antibiblioteca?
Embora te exponha à infinitude do que ainda há para se conhecer – o que pode soar realmente intimidador – a antibiblioteca é o que de fato deveria importar. Pois, é ela que vai chacoalhar a sua zona de acomodação, despertando-lhe a real consciência do quanto você ainda não sabe, do muito que ainda há para aprender e, automaticamente, do quão largamente você pode (e deve) melhorar.
Evitar a antibiblioteca é fechar-se em uma bolha, limitando as várias oportunidades de crescimento. Tê-la significa manter-se aberto ao desconhecido, exposto a uma abundância de caminhos possíveis para o desenvolvimento.
O anticonhecimento
Entender o conceito da antibiblioteca te ajuda a extrapolar a ideia para o campo do aprendizado e do crescimento pessoal. Pois, seu foco não será mais em se gabar pelo que já sabe. Mas em seguir na direção de seu anticonhecimento, porque é lá onde os novos aprendizados estão.
Adentrar no anticonhecimento revela uma parcela do mundo que você não entende, abrindo a incrível possibilidade de reconstruir as estruturas nas quais você geralmente baseia suas interpretações do mundo. Anticonhecimento é reconstrução constante, um dos princípios da evolução, do desenvolvimento contínuo e da antigfragilidade.
Quando se fala em desenvolvimento pessoal, o que você não sabe diz bem mais sobre si do que aquilo que você já conhece.
E aí, você possui uma antibiblioteca?
*Victor de Almeida Moreira é engenheiro de produção, com MBA em Engenharia de Custos, gestor de projetos da Mineração Rio do Norte (MRN), a maior mineradora de bauxita do país, e autor do livro (Auto)liderança Antifrágil, publicado pela Editora Gente.