Antes de desaparecer totalmente, o solo entra em declínio. Cerca de 40% do território agrícola no mundo todo é classificado como degradado ou gravemente degradado.
O professor John Crawford, cientista por trás do cálculo de que, se nossa trajetória atual for mantida, os solos talvez só produzam apenas 60 colheitas. Ele é enfático sobre a urgência de agir a esse respeito. “O relatório recente do IPCC deixou muito claro que a degradação da terra é totalmente insustentável e que nós precisamos fazer algo para detê-la e investir pesado na regeneração do solo”.
A agricultura industrial usa fertilizantes químicos para mascarar o decadência do solo, mas uma avaliação feita por cientistas do Grantham Centre for Sustainable Futures descreveu essa prática como “insustentável”. Os rendimentos das plantações são mantidos artificialmente mediante o “uso pesado de fertilizantes” cujo cultivo consome 5% da produção mundial de gás natural e 2% do fornecimento anual de energia do planeta. Para onde quer que olhemos, os solos em declínio tornarão um futuro sustentável bem menos provável.
Tais acontecimentos são uma consequência imprevista da quebra do vínculo que existia entre os agricultores, os animais de criação e o solo desde os primórdios da civilização. A agricultura intensiva é o que há de pior em termos de imediatismo: ela visa obter os maiores rendimentos hoje usando todos os meios que degradam o solo, o que implica rendimentos mais baixos no futuro. Esse é o problema atual.
Muito surpreende que a visão de Crawford é corroborada por Andy Beadle, porta-voz da BASF sobre sustentabilidade. Afinal, essa é a maior empresa química do mundo. Beadle acredita que tudo na agricultura começa e termina com o solo, e que essa importância só está sendo percebida devido ao início de um achatamento nos rendimentos das plantações. “Os aumentos nos rendimentos se achataram totalmente, apesar de todas as melhores mentes científicas estarem trabalhando nisso. Para mim, a causa disso é o solo, pois se olharmos os solos agora em toda a Europa, a grande maioria deles está em um estado bem precário”, diz Beadle.
Crawford tem certeza de que a agricultura regenerativa é a solução e que sabemos como fazer isso. “Bastava usar estrume no solo – e sempre havia matéria orgânica indo para ele e nós sabíamos como cuidar dele”, afirma.
De acordo com Crawford, no final das contas, não são os políticos nem as empresas, mas as pessoas comuns que mudarão o mundo e, para que consigam fazer isso, precisamos ajudá-las a pensar mais e de outro jeito. Então, perguntei a ele, qual seria a coisa mais importante que poderíamos fazer em prol da saúde do planeta? “Eu diria que é consertar o solo”.
* Philip Lymbery é CEO da Compassion in World Farming, desempenha papéis importantes em reformas de bem-estar animal e escreveu “As últimas colheitas”, publicação da nVersos Editora