Maria e Eu, obra da advogada Vanda Amorim que acaba de ser publicada pela Editora Letramento, traz um diálogo emocionante e sensível entre a jovem Maria e o leitor. Vítima de abandono e tortura sexual, a personagem narra detalhes impactantes sobre sua trajetória de vida, além da luta que enfrentou para superar o passado e recomeçar.
De origem simples e moradora de uma comunidade carioca, Maria sofria abuso sexual do padrasto desde os quatro anos de idade. Aos 12, a mãe deu a ela um prazo: a adolescente tinha dois anos para sair de casa. Abandonada, aos 14, e grávida de um filho que não queria, foi jogada a própria sorte.
“Com a barriga vazia de comida e cheia de uma criança que eu não queria, perambulei por horas pelas ruas do Rio de Janeiro, sem saber que rumo dar à minha história. Foi triste e humilhante. Passei o meu aniversário na rua, sem roupa, sem comida, sem dinheiro e sem nem um fio de esperança”.
Maria e eu, p. 34
Mas, afinal, como aceitar a gravidez e um filho fruto de uma violência sexual e de anos e anos de abuso? Com uma linguagem acessível e envolvente, Vanda expõe, com muita delicadeza, a trajetória de uma jovem, vítima de um sofrimento motivado pelo abandono social, que favorece a brutalidade e a selvageria.
Ao abordar a violência contra a mulher, mais especificamente a violência infantil, a autora procura tocar o coração das pessoas e ao mesmo tempo fazê-las refletir. “O abuso sexual infantil é um problema gravíssimo e precisa ser combatido e a maneira em que eu posso ajudar é fazendo boas histórias, capazes de atingir o coração das pessoas, fazendo-as sensibilizar com o problema”.
Ao atuar nas áreas de psicologia e advocacia especializada em família, não faltaram histórias para inspirar a escritora mineira radicada em São Paulo. Acostumada a lidar com situações de muitas perdas, o mais encantador, segundo ela, é ver como as pessoas tem a capacidade de se refazerem: “Quase sempre chegam despedaçadas e duvidosas que um dia se reerguerão. Depois do sofrimento, na maioria das vezes, essas pessoas saem mais fortalecidas e prontas para novos enfrentamentos. Diante de tantas biografias marcantes e envolventes, não fica difícil criar histórias para contar”.
Baseada em história ficcional ambientada no Rio de Janeiro neste século e inspirada em situações reais, Maria e Eu espera levar uma mensagem de esperança, em especial às pessoas que vivem ou já viveram em situação de tortura.
“Nesta obra, resta claro a necessidade de substituir o ressentimento pelo perdão. De agradecer pelo que se tem e não se ressentir pelo que falta. Melindrar-se por problemas irremediáveis é suicídio emocional. É bater a cabeça contra a parede e agravar o drama pessoal. Deve se ter em mente que mesmo as experiências mais frustrantes têm algo a ensinar. Todos, em algum momento, ficam expostos a algum tipo de derrota e frustração. Faz parte da essência humana”.
Keila Ferreira
O livro, além de poder ser adquirido separadamente, também compõe a Coleção Vanda Amorim, publicada pela Editora Letramento. O box traz, além deste lançamento, as obras Crocodilo Sonhador e Deus Não Abandona.
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