A explosão das mídias sociais trouxe um novo fenômeno: o aumento de narrativas pessoais de mulheres sobre a maternidade. Famosas e anônimas, mães, filhas, sem filhos e influenciadoras. Todas têm algo a dizer (ou escrever) sobre a vivência materna. Na contramão da etiqueta social esperada, diferentes mulheres têm usado as plataformas digitais para discutirem cobranças, culpa, frustrações e tantos outros aspectos que, embora envolvam a vida com ou sem filhos, não são enfatizados fora das redes.
Constroem um importante mosaico sobre a maternidade ou a ausência dela. Essa teia de relatos revela estruturas – socioculturais, políticas, tecnológicas, econômicas – que afetam os corpos femininos a partir de modelos maternos hegemônicos. Fenômeno que sublinha a necessidade de falar do tema com maior destaque para as facetas complicadas e opressivas: pelo humor, desabafos e transformações provocadas pela vida com filhos.
Reduzir a maternidade aos desafios maternos desagrada parte considerável das mulheres envolvidas nas discussões, que esperam retratos capazes de abranger a ambiguidade dessa vivência. Há, ainda, relatos que rompem a normatividade materna ao se inscrevem em tabus maternos, por exemplo: mães arrependidas ou abusivas.
Já as mulheres sem filhos denunciam preconceitos e a falta de amparo por não cumprirem a expectativa social de se tornarem mães, seja por escolha ou impossibilidade. Mulheres que optaram por não ter filhos discorrem sobre as limitações do modelo feminino hegemônico e como permanece a cobrança pelo maternar. Enquanto aquelas que não conseguiram ter filhos compartilham o desalento de se sentirem à margem em uma sociedade que ecoa ainda mais seu sofrimento ao perguntar: “quando vem o bebê?”.
Esse fenômeno, claro, não está isento de polêmicas. A maior delas talvez gire em torno do termo childfree e suas reações. Surgido para designar pessoas voluntariamente sem filhos, costuma ser confundido com aversão a crianças, algo alimentado por postagens zombeteiras de páginas assim intituladas.
Uma coisa é certa: as mulheres vão continuar demandado maior reconhecimento, dentro e fora das redes.
*Ana Luiza de Figueiredo Souza é pesquisadora e publicitária, doutoranda pelo PPGCOM da UFF, autora do livro “Ser mãe é f*d@!”: mulheres, (não) maternidade e mídias sociais.
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