Nos encontramos em uma nova fase da humanidade em que a ciência avança com uma rapidez vertiginosa e possibilita a realização de sonhos que antes existiam apenas no campo da imaginação. Porém, como uma moeda tem dois lados, a ciência também reflete a dualidade da humanidade nas dimensões das nossas virtudes, mas também dos nossos vícios. Reconhecer essa dualidade é viabilizar escolhas em lugar da aleatoriedade da sorte.
Nesse sentido, a energia nuclear, a inteligência artificial e a genética são exemplos de três grandes forças do desenvolvimento científico que exigem uma urgente e profunda reflexão. A literatura, o cinema e os debates dos especialistas descrevem cenários muitas vezes distópicos, que são alertas para nos levar a explorar caminhos alternativos mais promissores. Porém, onde estará a fonte dessa intuição de que tanto precisamos? Está no amor!
Precisamos de uma reflexão afetiva, mais do que intelectual. Uma intuição, mais do que um raciocínio, para nos guiar a um lugar onde a ciência e o amor estejam de mãos dadas.
Reflexo desse encontro está na realização do sonho de gerar um filho. A fertilização in vitro foi um marco do progresso científico nos anos 1970, e, desde então, a medicina reprodutiva continua avançando a passos largos e possibilitando a concretização de muitos sonhos. Pessoas que não encontram parceiros para formar uma família; outras que tomam a decisão tardiamente, ou que se submetem a tratamentos médicos que afetam a fertilidade; casais homoafetivos; e tantos outros sonhos que não eram possíveis antes, podem agora ser realizados.
Nessa jornada, ainda estamos aprendendo a lidar com muitas questões morais, espirituais, legais, sociais e filosóficas. Mas todas são inevitavelmente permeadas de uma profunda reflexão afetiva, que diz respeito não só aos sonhos e desejos individuais, como também ao nosso mais profundo instinto de perpetuação e evolução da própria espécie. O modelo de sociedade tecnológica que estamos desenvolvendo induz a uma taxa de fertilidade inferior à taxa de reposição da população – em breve teremos que lidar com mais esse desafio.
A chave é o equilíbrio entre a razão e o afeto, e devemos reconhecer que a balança está pendendo mais para um dos lados. Gerar um filho e deixar um legado para as futuras gerações é um ato de amor que estende a mão para a ciência.
*Augusto Maia é autor do livro de contos Amor in Vitro,
inspirado em histórias reais sobre reprodução assistida. Também
é administrador de empresa, mestre em Ciências, pesquisa
Humanidades, Narrativas e Humanização, além de trabalhar há
mais de 25 anos como executivo na indústria farmacêutica.