Apesar dos problemas que sempre enfrentou e da busca por compreensão em uma sociedade presa a padrões arcaicos, principalmente nas relações familiares e interpessoais, Vincent Van Gogh nunca conseguiu se adequar aos conceitos vigentes. Em uma época na qual tanto os comportamentos quanto a arte deviam seguir normas rígidas, o artista viveu em constante choque entre o que se esperava dele e o que ele realmente tinha a oferecer.
Sua visão excêntrica do mundo, marcada por uma intensa carga emocional e humana, sempre o distanciou da dita “normalidade”. Isso se refletia nas interações sociais e na estética de sua arte. Foi esse distanciamento, aliado à sua tentativa inovadora de expor sua forma de expressão, que o levou a ser considerado o “gênio incompreendido”.
A maior contribuição de Van Gogh foi mostrar que, na busca por complexidades para se encaixar nos padrões, o homem se afastou das coisas simples com que a natureza o presenteia a todo momento. Deixam de apreciar a enorme beleza contida em elementos como as luzes de lampiões refletidas nas águas de um rio sob um céu noturno repleto de estrelas, ou como uma noite dominada pelos astros que dançam no lento movimento do planeta. Ele revelou a complexa beleza na aparente simplicidade das flores, das pessoas colhendo uvas após a chuva, e de muitas outras cenas que passam despercebidas.
Hoje, as pessoas vivem em grandes cidades, constantemente voltadas para telas, distantes da natureza e sob um céu poluído e sem estrelas. Acreditam que a beleza reside nas luzes de edifícios brilhando à noite, enquanto correm apressadas, sem saber ao certo o que buscam, para, no fim, se depararem com o vazio.
Talvez seja hora de o homem compreender o quão fugaz é nosso tempo neste mundo, que muitas vezes desperdiçamos com coisas sem sentido. O tempo é o bem mais precioso que temos. Encontrar beleza na simplicidade pode ser o caminho mais verdadeiro para a felicidade. E é por isso que temos muito a aprender com Van Gogh.
*Sérgio Corrêa é escritor e autor do livro “Clara e Vincent”, obra que
ficcionaliza os últimos anos da vida de Van Gogh em Arles.